24 de ago. de 2011

CRESCIMENTO EM 4 DIREÇÕES


De acordo com o 2º Fórum de Pequenos Grupos da Divisão Sul-Americana, ocorrido em Novembro de 2008, a visão sobre os pequenos grupos é que “sejam a estrutura espiritual e relacional básica da igreja e das ações relacionadas ao pastoreio, discipulado, e à participação dos membros, de acordo com os seus dons espirituais no cumprimento da missão; constituindo-se em um estilo de vida para cada adventista do sétimo dia e que os departamentos da igreja e seus programas sejam facilitadores no desenvolvimento dos pequenos grupos e que estes sejam o veículo adequado do programa da igreja”[1].
Por isso, a palavra que deve permear as discussões e ações eclesiásticas Adventista do Sétimo Dia deve ser propósito.
O pequeno grupo como estilo de vida da igreja contemporânea, cumprindo seu papel através da missão dada por Jesus aos discípulos em Mateus 28:18-20, e que nos alcança hoje, visa o crescimento holístico de todos os seus integrantes ora membros de igreja sofrendo ação diária do Espírito Santo transformando-os em verdadeiros discípulos.
Devemos correr, mas pela estrada certa. Assim como a comunidade cristã primitiva crescia harmonicamente e a visão compartilhada era consolidada de forma automática com “os que iam sendo salvos” segundo Atos 2:42-47, os pequenos grupos promovem suas ações compartilhando a visão buscando sua consolidação em 4 níveis de envolvimento e crescimento a saber: para cima, para dentro, para fora e para frente.
Nomeamos o nível de crescimento para cima como o relacionamento com Deus, e este nível é primário. O pequeno grupo sendo uma família em essência busca ser relevante para a comunidade onde está inserida, para a comunidade religiosa a qual pertence e ainda, busca formar líderes para que o legado deixado durante os dias de convivência seja posterizado inclusive através da multiplicação de seu núcleo.
Para que os objetivos sejam alcançados, o pequeno grupo precisa buscar a ação do poder divino e sobrenatural sobre si. “Nossa afeição de uns pelos outros provém de nosso relacionamento comum com Deus. Somos uma família, amamo-nos uns aos outros como Ele nos amou”[2]. De acordo com a citação, amizade e níveis de relacionamento mais relevantes dependem exclusivamente de uma relação íntima com Deus. Ainda, uma palavra de destaque é “comum” que em seu contexto literário sugere não apenas o relacionamento de uma pessoa com Deus, mas de todo o grupo.
A conquista de pessoas das trevas para a luz depende de um relacionamento íntimo com Deus onde o Espírito Santo pode agir transformando o coração e a mente de cada indivíduo. Ao refletirmos sobre a vida de Enoque, percebemos claramente os passos de um relacionamento saudável com Deus onde o seu desinteresse material tinha o mesmo valor da busca incessante por um coração renovado e que transbordasse as virtudes de Seu Mantenedor. Seus encontros com Deus eram contínuos e de agradável intimidade onde pensamentos vivos do Pai estavam diante de si próprio. “Ao sair e ao entrar, suas meditações eram na bondade, na perfeição e na amabilidade do caráter divino. E, ao estar assim absorto, foi transformado na gloriosa imagem de seu Senhor; pois é contemplando que somos transformados”[3].
Portanto, neste escopo, ações como retiros espirituais, semanas de reavivamento espiritual, vigílias, jejuns, cultos na madrugada, correntes de oração, estudo sistemático da Bíblia e da lição da escola sabatina, culto familiar, entre outros, são fundamentais para o desenvolvimento de uma vida contemplativa de Deus e Seu amor. Mateus 6:33 é um convite a priorizarmos o essencial: “Busquem, pois, em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas”.
Outro nível de crescimento dos pequenos grupos é para dentro. Neste, busca-se um nível de cumplicidade maior. O objetivo é que ao buscar a Deus e crescer num relacionamento com Ele, automaticamente cresça-se também o relacionamento entre as pessoas. Sidinei Mendes, em seu artigo “Ampliando a Visão”, sugere que “o grande benefício da dimensão ‘para dentro’ é o senso de cuidado e pastoreio”[4]. Como podemos cuidar um do outro de forma legítima?
O amor a Deus transforma o ser humano de tal forma e nos dá a visão do “próximo” em que nunca estaremos satisfeitos e descansados enquanto ele não estiver cuidado e, pelo menos, em circunstâncias equivalentes as que nós mesmos. Esse é um discurso antigo da Bíblia, ignorado por certo tempo, mas divino, e que sugere uma mudança radical de atitude. A verdadeira vida em comunidade, e o pequeno grupo propicia isto, faz com que o próximo seja o foco da existência.
Quando pensamos no nível de crescimento “para dentro”, racionalizamos que a vida de um faz parte da vida do outro. Você entra na vida do outro e a vida do outro entra na sua. Todos juntos, unidos e misturados louvam ao Senhor. Pessoalmente, tenho a parábola do bom samaritano como uma das expressões de cuidado mais ricas que a Bíblia contém. O relato bíblico encontra-se em Lucas 10:25-37. Ao descrever a parábola do bom samaritano, Ellen White afirma que não necessariamente o “próximo” deva ser alguém da nossa igreja ou que professe a mesma fé, mas pode ser. Independe raça, classe ou cor. Ela afirma que o “nosso próximo é todo aquele que necessita de nosso auxílio. Nosso próximo é toda alma que se acha ferida e quebrantada pelo adversário. Nosso próximo é todo aquele que é propriedade de Deus”[5].
Este relato uma descrição de Jesus e Sua missão. É o manifesto de Sua vida. Ao cuidar de nós, Jesus dá o exemplo daquilo que devemos praticar em comunidade. Textos bíblicos como João 13:34-35 e I João 2:6 mostram que Jesus exige ação em favor de outrem se quisermos ser participantes de Sua glória. Na visão “para dentro” cuidado e pastoreio só sabe o que é quem investe tempo praticando. Deus requer a utilização do máximo de nossas possibilidades e nossa grande afeição em favor da comunidade.
Atividades que promovam o cuidado, o pastoreio e o fortalecimento relacional são grandemente estimuladas para que o pequeno grupo cresça na visão “para dentro”. Visitação, pic-nics, cultos de pôr-do-sol, “junta-panelas”, entre outros são atividades extremamente estimuladas.
Ao intencionarmos maior relacionamento com Deus (para cima) e com a comunidade (para dentro) encontramos a necessidade de crescer para fora. O evangelismo de Jesus era intencional e seguia passos bem claros. “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’”[6].
Esse era o método de Cristo. Hoje existem muitas frentes missionárias na Igreja, como as duplas missionárias, o ministério da recepção, o ministério pessoal, a coordenação dos interessados, entre outros, que diante de treinamento e capacitação alcançam êxito em seu trabalho. Entendo que a ação destes ministérios associado à visão do “método de Cristo” tornará mais eficaz qualquer ação “para fora”, pois o Seu evangelismo era discipulador.
O evangelismo começa quando pensamos com quem vamos nos misturar e como nos identificaremos com o público-alvo. A partir dessa convivência, conhecendo as necessidades do próximo e agindo para lhes atender fazendo o máximo por supri-las, como já foi dito, uma relação de confiança e amizade estabelecida é cada vez mais solidificada. As verdades eternas compartilhadas nessa convivência são como marcas feitas em rocha que o tempo não consegue apagar. Quando o próximo é o alvo da minha ação, de tudo aquilo que Deus já fez em mim, então o evangelho “para fora” é compartilhado em sua plenitude, pois a reação de quem recebeu será compartilhar da mesma forma que um dia Cristo o fez.
O ambiente relacional do pequeno grupo sempre foi propício ao evangelismo. Grandes resultados já foram alcançados. A visão do “método de Cristo” no nível de crescimento “para fora” tem proporcionado um verdadeiro reavivamento espiritual, além da consolidação da mentalidade do evangelismo discipulador bem como um crescimento saudável notório na Igreja.
Por último, o nível de crescimento para frente busca estimular os líderes a (1) buscar e capacitar outros líderes através de oração e acompanhamento, discipulado e treinamento e (2) a manter viva a chama do evangelismo e multiplicação do pequeno grupo para que o legado seja passado adiante e a missão cumprida cabalmente.
O treinamento prático possibilitará cada membro do pequeno grupo a entender sua posição e todos unidos se tornarão um corpo eficaz da pregação do evangelho.
O nível “para frente” é de suma importância, pois trabalhará através do líder do pequeno grupo, em cada membro, o encorajamento, o desprendimento missionário, delegação de responsabilidades, avaliações, a multiplicação do pequeno grupo, o discipulado. É no ambiente desse nível de crescimento onde se revelam os futuros líderes da estrutura do pequeno grupo desde o anfitrião até o coordenador.
Diante do exposto acerca dos 4 níveis de crescimento dos pequenos grupos, sabe-se de uma visão, missão e propósito compartilhados e vividos, uma direção segura onde cada comunidade pode caminhar desenvolvendo-se cada vez mais e cumprindo a missão de Mateus 28:18-20 sendo relevante no contexto geográfico onde estão inseridos.



[1] CHAVES, Jolivê; TIMM, Alberto R. (Org.). Pequenos Grupos: Aprofundando a Caminhada. Tatuí: Casa Publicadora
       Brasileira, 2011. p. 232-233.
[2] WHITE, Ellen G. Mente, Caráter e Personalidade, vol. 1. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1998. p. 211.
[3] WHITE, Ellen G. Exaltai-O (Meditações Matinais). Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 1992. p. 266.
[4] CHAVES, Jolivê; TIMM, Alberto R. (Org.). Pequenos Grupos: Aprofundando a Caminhada. Tatuí: Casa Publicadora
       Brasileira, 2011. p. 167.
[5] WHITE, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. p. 353.
[6] WHITE, Ellen G. A Ciência do Bom Viver. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2008. p. 143.