31 de jul. de 2011

LUGARES DE REFÚGIO

Um homem se converteu depois de viver durante muitos anos uma vida totalmente desregrada. Mas ao vir para a Igreja ele não encontrou amor, amizade, companheirismo, etc., e depois de algum tempo voltou a viver como antes. Interrogado sobre o assunto, ele disse: “... sentia muita falta do velho companheirismo com os caras do grupo, no barzinho da esquina. A gente ficava lá sentado, ria, contava casos, bebia umas cervejas e relaxava ... era maravilhoso! Na igreja não encontrei ninguém a quem pudesse contar meus problemas, para falar dos meus erros. Não encontrei ninguém na igreja que se dispusesse a passar o braço pelo ombro da gente e dizer que está tudo bem. Eu me senti muito sozinho dentro da igreja”.
A nossa igreja precisa deixar de ser um santuário admirado somente pela sua arquitetura e ser mais como um hospital bem procurado, um lugar onde as pessoas possam trazer seus sofrimentos e angústias, um lugar onde as feridas da nossa vida possam ser curadas.
Será que aquele homem estava dizendo uma mentira? Pense comigo e responda para você mesmo: A quem você procura nos momentos de desespero? A quem recorremos quando nos envolvemos em algum problema mais grave? Quem nos ama o suficiente para ouvir nosso pranto? Quem nos conforta quando nos sentimos esfacelados? Quem é que sabe ficar de boca fechada e coração aberto? Quem é que nos abraça com uma atitude de compreensão, e espera com paciência até que nos sintamos melhor, sem ficar citando versos bíblicos, quando o que mais merecemos é um puxão de orelhas? Quem age assim sem nos dar logo um livro do Pr. Bullón ou um DVD dos seus sermões para lermos ou ouvirmos?  Quem é que nos ouve sem contar nossos problemas para uma porção de irmãos, para que eles possam orar também?
Nossa igreja precisa ser como um abrigo para as vítimas de uma enchente, onde as pessoas possam encontrar aconchego, amizade e amor.
Alguém disse certa vez que “os bares estão cheios, não é porque as pessoas em sua maioria sejam alcoólatras mas, sim, porque Deus colocou no coração do homem o desejo de conhecer e ser conhecido, de amar e ser amado. E muitos vão atrás de uma falsa realização assim, porque sabem que precisam apenas gastar algum dinheiro com um pouco de bebida!”. Nossas igrejas não estão sendo um abrigo para as pessoas que se sentem desamparadas.
O que você precisa quando uma desgraça deste tamanho afeta você ou sua família? Você precisa de um abrigo. De pessoas que saibam ouví-lo, ajudá-lo e conduzí-lo mais uma vez ao Pai de misericórdia e Deus de toda consolação! Pois afinal é Deus que nos conforta em toda a nossa tribulação.
Dizem que o cristianismo é um exército poderoso, mas a grande verdade é que muitas vezes tratamos nossas tropas de maneira muito estranha, pois somos o único exército que conheço que fuzila os seus feridos. Em suma, aquele homem que abandonou a igreja estava cheio desse negócio de ser fuzilado.
O Salmo 31 é um daqueles hinos antigos com letra muito atual. Davi o escreveu num momento em que não tinha em quem se apoiar. Estava com problemas sérios. Precisava de um abrigo. E como não havia ninguém mais a quem recorrer, olhou para o alto.

Em ti, Senhor, confio; nunca me deixes confundido. Livra-me pela tua justiça. Inclina para mim os teus ouvidos, livra-me depressa; sê a minha firme rocha, uma casa fortíssima que me salve”. Salmo 31:1 e 2.

Ele precisava de um lugar seguro, lugar de proteção, um esconderijo. Mas por que Davi precisava de um refúgio? Pelas mesmas razões que hoje nós também precisamos. No Salmo 31 ele menciona várias razões, entre elas a sua tribulação, o seu pecado e seus adversários. Quando estamos atribulados, a tristeza está sempre ao nosso lado.

Tem misericórdia de mim, ó SENHOR, porque estou angustiado. Consumidos estão de tristeza os meus olhos, a minha alma e o meu ventre. Porque a minha vida está gasta de tristeza, e os meus anos de suspiros; a minha força descai por causa da minha iniqüidade, e os meus ossos se consomem”. Salmo 31:9 e 10.

Ele diz que seus olhos se consomem pelo choro. Sua vida está sendo consumida pela tristeza. Tudo sombrio. Os dias se arrastavam penosamente e não havia esperança de que o amanhã fosse melhor. As pessoas costumam dizer que são os dias cinzentos da nossa vida.
Lendo o verso 10, descobrimos que quando estamos em pecado, somos atormentados pelo sentimento de culpa, vergonha, constrangimento. Davi confessa que está doente por causa dos seus pecados. Se já é ruim se sentir assim tão mal, imaginem a pessoa reconhecer que grande parte é culpa sua, que tinha feito a cama e agora teria que deitar-se nela? E qual de nós nunca se viu numa situação assim?
Mas além da tribulação e do sentimento de culpa, Davi menciona uma terceira razão para buscarmos um refúgio: seus adversários.

Fui opróbrio entre todos os meus inimigos, até entre os meus vizinhos, e horror para os meus conhecidos; os que me viam na rua fugiam de mim. Estou esquecido no coração deles, como um morto; sou como um vaso quebrado. Pois ouvi a murmuração de muitos, temor havia ao redor; enquanto juntamente consultavam contra mim, intentaram tirar-me a vida”. Salmo 31:11 a 13.

Observem como são tratados aqueles que estão sofrendo:
- “Tornei-me espanto para os meus vizinhos” = ridicularizado.
- “Horror para os meus conhecidos” = criticado.
- “Os que me vêem na rua fogem de mim... esquecido como um vaso quebrado” = rejeitado.
- “Tenho ouvido a murmuração de muitos” = mexericos.
- “Tramam tirar-me a vida” = ameaças.
E ainda temos coragem de reclamar da vida. Davi estava como um pequeno rato ferido, preso nas garras de um imenso gato faminto. Chutado, socado, agredido verbalmente, apavorado de medo, com sua vida por um fio. Talvez você também se sinta na mesma situação. Se já é ruim lutar com a tristeza e viver com o sentimento de culpa, pior ainda é receber a condenação dos outros, das línguas ferinas e dos olhares acusadores. Ou pior ainda, o silêncio: um telefonema amigo que não vem, os abraços de conforto que não recebemos, como fazem falta! Como precisamos de pessoas amigas e de lugares de refúgio!
Quando o povo de Israel tomou posse da terra prometida e a terra foi dividida entre as tribos, Deus não ignorou as pessoas necessitadas. Ele instruiu a liderança do Seu povo para estabelecer cidades de refúgio, que eram locais para onde iam as pessoas que matavam alguém involuntariamente. No sistema estabelecido por Deus, todo cuidado era tomado para que o homicida pudesse chegar com segurança à cidade de refúgio, onde ele estaria livre daqueles que assumiam a tarefa de vingar a morte de um ente querido. Em Josué 20 e Números 35 encontramos tudo isso em detalhes.
As cidades designadas para servirem de refúgio eram: Quedes, Siquém, Quiriate-Arba, Bezer, Ramote e Golã. Talvez você nunca ouviu falar desses lugares. Mas todos já ouviram falar das nossas cidades, principalmente as maiores. Será que elas são lugares de refúgio para nós? Será que ( ________ ) é um local onde as pessoas se preocupam com os sofredores; que se interessam por eles o suficiente para ouví-los, para ajudá-los a sobreviver, para promover sua completa restauração? Será esta nossa cidade uma cidade de refúgio? Provavelmente não! Infelizmente a verdade é que hoje não existem mais cidades que sejam apontadas como cidades de refúgio. Nem grandes nem pequenas. Mas dentro das nossas cidades há locais muito importantes que deveriam ser verdadeiros portos de esperança. Nossa igreja é um desses lugares.
Não estou me referindo ao templo. Estou falando de pessoas. Pessoas verdadeiramente cristãs, que saibam amar como Jesus amou.
Poderíamos chamar hoje a nossa igreja de abrigo para as vítimas de uma enchente? Hospital para os que sofrem? Clínica especializada em corações aflitos, sonhos desfeitos e almas destroçadas?
O que é necessário para que isso ocorra?Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. I João 3:16 a 18.
Se quisermos levar a sério estas palavras, temos que aceitar o que está implícito nelas: (1) a disposição de ter trabalho com uma pessoa em dificuldade, (2) uma atitude de terna compaixão para com os necessitados, e (3) estar pronto a ajudar os outros da maneira mais prática possível.
Já chega de as pessoas necessitadas de um local de refúgio procurarem abrigo no barzinho da esquina mais próxima! Está na hora de fazermos com que a Igreja de Jesus Cristo – a família de Deus – se transforme num lugar de refúgio para os aflitos e desesperados. Está na hora de erguermos bem alto a lâmpada do perdão, a tocha da graça divina que um dia foi estendida aos pecadores.
Finalizo com um poema que está gravado numa placa de bronze, na base da Estátua da Liberdade, nos EUA:

“Diferente do gigante grego de bronze
que com pernas separadas, liga uma ponta de terra a outra,
aqui, em nossos portões banhados de mar, está
uma grandiosa mulher, segurando uma tocha, cuja chama
é como um raio de esperança, e seu nome
Mãe dos exilados. Em sua mão, que é um farol,
brilha um acolhimento universal; seus olhos mansos dominam
toda a baía que emoldura a cidade.
Mantenham, terras antigas, seu eterno esplendor.
Entreguem-me os cansados, os pobres,
as multidões sem rumo, desejosas de respirar livremente,
os infelizes refugos de suas cidades superlotadas.
Mandem para mim os desterrados, os vitimados pela tormenta.
Com minha lâmpada, ilumino os portões dourados”. Emma Lazarus.

Será que esta inscrição poderia ser colocada na fachada da nossa Igreja?
Será que poderia ser colocada na fachada da nossa casa?
Será que este poema poderia ser colocado na fachada do nosso coração?