30 de abr. de 2011

ESPIRITUALIDADE BÍBLICA

   Salmos é o livro mais longo da Bíblia. Ele contém mais capítulos que qualquer outro livro da Bíblia, como também os capítulos mais longos e mais curtos da Bíblia.
   O Novo Testamento cita o livro de Salmos mais que qualquer outro livro. Sem dúvida, é o livro mais popular do Antigo Testamento, se não de toda a Bíblia. Abraham Lincoln confidenciou a um amigo a respeito de Salmos: "Eles são ótimos. Encontro alguma coisa neles para cada dia do ano". Martinho Lutero chamou-os de "a Bíblia em miniatura". Um dos Salmos mais lindos e lidos é o Salmo 23.
   O livro dos Salmos é um dos cinco livros do Antigo Testamento que chamamos de "livros de sabedoria". Os outros são Jó, Provérbios, Eclesiastes e Cantares. Nestes livros não há grandes eventos como nos livros históricos e proféticos. Não há leis como no Pentateuco. Esses livros não são sobre a nação de Israel como um todo; antes, são sobre indivíduos e os altos e baixos da experiência pessoal de cada um deles.
   Muitas vezes, os livros poéticos são a parte do Antigo Testamento que os cristãos preferem, e isso não é de surpreender. De muitas maneiras esses livros são mais fáceis de entender. Aprendemos mais depressa e somos mais atraídos pela experiência individual de tristeza e de alegria que pela descrição de um sacrifício ou pelo relato de uma batalha antiga. Esses livros estão cheios de poesia bonita.
   Os Salmos não são agrupados por tema. Não encontramos todos os salmos de alegria ou de dor reunidos em seções distintas. Eles não são apresentados em qualquer ordem cronológica. O livro não se inicia com o salmo mais antigo e termina com o mais recente.
   O livro dos Salmos divide-se em 5, e a maioria das traduções destaca esses grupamentos.
- Livro Primeiro: Salmo 1 – 41
- Segundo Livro: Salmo 42 – 72
- Terceiro Livro: Salmo 73 – 89
- Quarto Livro: Salmo 90 – 106
- Quinto Livro: Salmo 107 – 150
   Cada um desses cinco livros termina com uma doxologia, ou seja, um chamado a louvar o grande Deus descrito nos Salmos precedentes. Diante de uma leitura criteriosa, podemos ver que o livro dos Salmos, como um todo, atinge a grande culminância na "grande doxologia" que são os últimos 5 salmos, apresentando um elevado louvor a Deus.
   Há séculos, até milênios, as pessoas encontram no livro dos Salmos alguns dos exemplos mais claros do que significa ser uma pessoa espiritual. Já parou para imaginar como eram os crentes do Antigo Testamento? Como comparar a experiência deles com a nossa? Que distinção havia na fé deles? O livro de Salmos apresenta o retrato de uma vida espiritual verdadeira.
   Atualmente, a espiritualidade é bem popular. Em nossa cultura a falsidade e a superficialidade não são os tributos pessoais mais apreciados, e diante disso existe uma busca incessante de cada indivíduo ser espiritual.
   De um modo vago, ser espiritual soa como uma boa coisa para nós. Talvez isso traga mais peso, mais sobriedade e transmita um tipo de seriedade aos indivíduos. Muitas pessoas almejam esse respeito para o seu caráter, para seus interesses e para quem são. No entanto, é irônico que esse mesmo anseio sirva de testemunho para a falsidade e a superficialidade de muitas vidas. Como sabemos se estamos bem espiritualmente?
   No livro dos Salmos encontramos uma lista de 7 características de pessoas biblicamente espirituais. Começamos a entender a verdadeira espiritualidade apenas quando nos voltamos para o que a Bíblia ensina sobre a nossa condição de caídos e a obra de Cristo em nossa restauração em relação a Deus.

1. DAR LOUVORES
   Primeiro, a verdadeira vida espiritual caracteriza-se pelo louvor. O aroma básico dos Salmos, como também o tema básico que Deus pretendeu passar a toda a criação é o louvor. No original hebraico, o livro dos Salmos recebe o título de "Canções de Louvor", e isso é visível.
   No Salmo 145 o salmista louva a Deus como o Criador e o Governante de seu mundo e como redentor do seu povo. Louva o Senhor pelo que tem feito (proezas). Contudo, os Salmos não louvam a Deus apenas pelo que tem feito; eles O louvam também pelo o que Ele é. Os Salmos 148 e 149 revelam a alegria do salmista com o que Deus tem feito e com o fato de que essas coisas revelam que Ele é Deus.
   Para qualquer espiritualidade bíblica, é fundamental a alegria real em Deus e em quem Ele revelou ser. A espiritualidade bíblica nunca se centra no homem ou na ajuda que Deus pode nos dar para alcançarmos nossos objetivos. A espiritualidade bíblica sempre se concentra em Deus.
A espiritualidade perdida em si mesma e sem louvor é falsa. Afinal, conhecer o Deus da Bíblia é aprender a louvá-lo e a amá-lo. Falhamos em louvá-lo e em amá-lo ao ficarmos surdos em relação a Sua Palavra e cegos para o seu Esplendor. De acordo com Salmos, a pessoa verdadeiramente espiritual conhece a alegria do louvor.

2. HONESTIDADE
   A pessoa verdadeiramente espiritual não vê o mundo através de lentes otimistas. A honestidade é a segunda característica da verdadeira espiritualidade. Vemos essa honestidade, em especial, no que chamamos de salmos de lamento.
   Os Salmos de lamento são cheios de dor, desorientação, sofrimento, mágoa, raiva e sentimentos de abandono, tanto da comunidade como do indivíduo. Às vezes, esses salmos apresentam até as mais horripilantes pregas e as injúrias mais mordazes já proferidas na Bíblia. Dos 150 Salmos, cerca de 62 são de queixa ou lamento.
   O Salmo 74 inicia-se com um bom exemplo de lamento coletivo. Os versos 1 e 2 mostram que esse salmo levanta seu clamor em favor de "nós". Todavia, os Salmos apontam ainda mais para a dor pessoal, por exemplo o Salmo 10:1-2.
   Os cristãos devem expressar com honestidade o sofrimento e a mágoa em sua vida coletiva e individual. Às vezes achamos que é mais espiritual não sentir dor, e se a sentimos, não admitir isso nos torna mais espirituais.
   De acordo com os Salmos, a pessoa verdadeiramente espiritual conhece o sofrimento, as dificuldades, as angústias e até algo próximo do desespero. Uma das principais razões para o livros dos Salmos ser tão útil e amado é o fato de ser tão enfático e realista, não apenas nos apogeus de alegrias, mas também nas profundezas da angústia.
   Quando olhamos o Novo Testamento, o mesmo Jesus que adorou a Deus com 12 anos de idade no Templo, aos 33 clama "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?".
De acordo com os Salmos, a pessoa verdadeiramente espiritual conhece a alegria real de louvar a Deus e a agonia real de clamar por Ele.

3. LEMBRANÇA
   Os livros Poéticos dizem respeito às experiências individuais com Deus. Todavia, o Antigo Testamento é contextual e por isso, muitos salmos refletem uma preocupação com Israel como um todo. Sendo assim, compreendemos melhor os salmos de natureza mais corporativa se soubermos alguma coisa da história de Israel. A terceira característica da espiritualidade bíblica é a lembrança.
   Parece que esses Salmos, hoje, estão mais distantes de nós como indivíduos. Pode parecer que eles não têm ligação conosco nem relação com a nossa vida, afinal, estão preocupados com o acordo especial, ou aliança, que existia entre Deus e esse povo antigo que Ele separara para Si mesmo.
   Às vezes, a natureza histórica e corporativa desses Salmos são sutis. Veja o Salmo 47. Em outros Salmos o foco principal está na obra de Deus na nação. O Salmo 136 reconta a história específica da nação de Israel nas frases intermediárias.
   Esses Salmos podem parecer um pouco distante de nós se não conhecermos a história. À medida que aprendemos a história por trás do Salmo começamos a entender a importância da salvação do Senhor e a alegria que Ele trouxe a todos. Nós precisamos ser um povo que "tenha memória". As promessas de Deus trazem-nos esperança de bondade futura, em especial, quando nutridas com a lembrança da bondade passada.

4. MORALIDADE
   O livro dos Salmos inicia-se com a escolha moral posta diante de todo ser humano: a escolha entre a justiça e a maldade. Na verdade, a espiritualidade bíblica repousa sobre a moralidade certa. Esta é a quarta característica.
   O Salmo 1 descreve o homem espiritual que se delicia na Lei de Deus e na sabedoria e na sua justiça, comparando-o ao insensato e injusto que ignora a Lei do Senhor. Deus traz sua lei ao nosso conhecimento e mostra-nos o caminho da verdade e da justiça. O salmista regozija-se no conhecimento da Lei de Deus porque percebe que isso é o conhecimento da vontade e do Seu caráter.
   Esse conhecimento da verdade, da justiça e da sabedoria instrui as escolhas que fazemos como cristãos. Se a sabedoria de Deus não orienta nossas escolhas, se sentimos que podemos nos orientar por nós mesmos, então somos desmemoriados e errados.
Qualquer um que se apresente como uma pessoa espiritual ou boa e, todavia, viva em contradição com a Palavra revelada do Senhor, engana-se a si mesmo e aos outros.
   A pessoa verdadeiramente espiritual tem de prestar atenção às palavras do Senhor, pelo poder de Deus e para os propósitos dEle. Em suma, para a espiritualidade verdadeira acontecer de haver moralidade.

5. MUDANÇA
   A quinta característica bíblica da espiritualidade é a mudança. Ouvimos o salmista rogar por mudança, em especial nos salmos de penitência. Quando pensamos em Jó e suas dificuldades entendemos que a dificuldade circunstancial de sua vida era, pra si, misteriosa e além da sua compreensão. Os salmos de penitência mostram o rogo por mudança por causa dos próprios erros, e estes contribuindo para um afastamento de Deus e dos outros. Quando cientes de nosso erro, precisamos nos arrepender.
   Há sete salmos de penitência ou de mudança (6, 32, 38, 51, 102, 130 e 143) e são ótimos para lermos e usarmos em nossa vida e afim de ser auxílio no processo de arrependimento e mudança. Agostinho, teólogo da Igreja primitiva, tinha como salmo preferido o de número 32, pois este ajudou-o a saber como chegar a Deus e pedir as mudanças que precisava em sua vida.
   A salvação está disponível para nós apenas porque Cristo tomou sobre si as maldições descritas nos salmos penitenciais. Para uma verdadeira espiritualidade, é necessário mudança diária.

6. CONFIANÇA
   A confiança, a sexta característica da espiritualidade bíblica, deve acompanhar o arrependimento. Veja o Salmo 62. O salmista chama-nos a deixar de lado tudo em que colocamos nossa confiança e a confiar apenas em Deus. Nada mais nos sustenta! A vida cristã exige que desistamos profundamente de nós mesmos e confiemos em Deus e em Sua Palavra. A verdadeira vida espiritual é marcada pela dependência naquEle que é maior. E isso não é opcional para uma espiritualidade verdadeiramente bíblica.

7. AÇÃO DE GRAÇA
   Por fim, uma das características mais importantes da espiritualidade bíblica é a ação de graças. Os salmos de ação de graças são cerca de 19 em todo o livro. O Salmo 124 é um exemplo de ação de graças coletiva. Damos graças, especificamente, por alguma coisa que esse Deus louvável nos deu. A pessoa verdadeiramente espiritual sente uma profunda gratidão por Deus.

Enfim, Jesus nos preenche com perfeição todas essas características. Olhemos para Ele, espelhemos Jesus!!!